A Rota do Linho
"Uma experiência pedagógica centrada na
tecnologia tradicional do linho"
Linho
em flor
Resumo do projeto
A Educação
Patrimonial deverá procurar estabelecer uma dedicação de toda a comunidade pelo
seu património cultural. Desta forma ocorrerá um processo de aproximação da
população ao seu património local, à memória dos nossos antepassados, aos bens
culturais, de forma agradável e lúdica, devendo considerar todas as classes
etárias e ser aplicada a qualquer bem cultural móvel ou imóvel. Assim,
pretende-se com os alunos, fazer uma
plantação de linhaça (semente do linho), a fim de desenvolver uma experiência pedagógica centrada na tecnologia
tradicional do linho. Os alunos terão a oportunidade de conhecer todas as fazes da tecnologia tradicional do linho, através do contacto com todos os objetos necessários à transformação do caule da planta, até chegar ao tecido. Terão ainda a possibilidade de conhecer o "tear" e assistir à urdidura de uma teia no mesmo.
Enquadramento Teórico
Muitas foram as plantas de natureza têxtil
existentes na ilha da Madeira, não de espécie, família ou género, mas de
aplicação humana a vários trabalhos da vida diária, desde tempos de que não se
tem memória. A planta do linho, na Madeira e Porto Santo, durante séculos, fez
parte da sua flora, como companheira inseparável do homem, sendo um factor de
economia doméstica e matéria-prima para a indumentária confecionada pela mulher
do campo.
Dentro do arquipélago a situação das atividades
artesanais de produção têxtil era muito diferenciada. O povo vestia-se de lã e
de linho aviados na terra.
O linho era semeado, colhido e tratado pelos
processos tradicionais, fiado na roca ou na roda de fiar com pedal e tecido no
tear caseiro, instalado geralmente na cozinha ou quarto de dormir. Sendo fiado
e tecido no agregado familiar, constituía um bem legado de pais para filhos.
Na Madeira, o cultivo da planta era feito
geralmente em pequenas parcelas e a finalidade principal era também a de
sobrevivência do agricultor e da sua família, não para a venda dos produtos
excedentes mas para confeção dos seus trajos de trabalho, domingueiro ou de
sair à cidade, servindo ainda como modo de pagamento dos bens essenciais que
fossem adquiridos.
O linho
O linho é uma planta herbácea, que poderá
atingir cerca de um metro de altura e pertence à família das Lináceas.
Compreende um certo número de subespécies, associadas pelos botânicos sob o
nome de Linum Usitatissimum L..
A raiz do linho é aprumada, podendo atingir
mais de 0,65 m de profundidade.
A
colheita do linho é feita manual, sendo arrancado inteiro, reunido em
“mancheias” (Mão cheia de linho
arrancado do solo (termo usado na Calheta - Ilha da Madeira) e levado
para ripar. Deste modo será aproveitado todo o comprimento do caule da planta,
incluindo a raiz, permitindo assim a obtenção de fibras longas.
A planta é
produtora de sementes oleaginosas e a sua farinha é utilizada para cataplasmas (Às sementes de linho trituradas (farinha de linhaça) acrescentam-se à água a ferver até se obter
uma papa espessa. Normalmente são precisos de 30 a 40 g por litro de
água. Quando se aplica a cataplasma convém proteger a pele com um pano fino
para evitar que se produzam queimaduras.) de papas de linhaça, usada para fins medicinais. A linhaça poderá ser ainda usada na alimentação diária, quer em
batidos, sopa, pão, bolos, etc..
São várias as operações que integram o
percurso do linho, desde o lançamento da linhaça à terra, colheita da planta e
trabalhos conducentes ao isolamento e qualificação da fibra (libertando-a dos tomentos - fibras mais curtas e menos
resistentes), para que possa transformar-se em fio.
Projeto de Intervenção
Foram definidos os seguintes objetivos
de investigação:
- verificar quais os
conhecimentos dos alunos, sobre a
temática antes da intervenção;
- verificar se os alunos compreendem a necessidade
de preservar e divulgar o património da sua região e averiguar se os alunos
aprofundaram/alargaram os conhecimentos após a intervenção.
A intervenção pretende:
- promover o conhecimento de processos de trabalho artesanais
relacionados com as tecnologias de transformação da planta do linho;
- contribuir
para a compreensão das várias fases de transformação da fibra do linho e contribuir
para a preservação e divulgação do património cultural da sua região.
Como finalidade pretende-se:
- a aquisição de conceitos na área do
património;
- o envolvimento dos alunos na problemática relacionada com o
património e a formação de alunos mais críticos e mais conscientes.
Ao trabalhar o Património Cultural nas
escolas pode-se fortalecer a relação das pessoas com as suas heranças
culturais, estabelecendo um melhor relacionamento destas com estes bens,
conhecendo a sua responsabilidade pela valorização e preservação do Património.
O cultivo da planta terá
como finalidade:
- fomentar, preservar e divulgar a Cultura do nosso Povo,
através da participação em Exposições e Mostras Regionais, em cooperação com as
instituições locais.
No desenvolvimento do projeto teremos
em conta as Metas Curriculares de Educação Tecnológica para o 2º ciclo do
ensino básico e Educação Visual para o 2º e 3º ciclo do ensino básico.
Trabalho prático/experimental
Realização
das várias fases de transformação da fibra do linho
(em contexto
de sala de aula e/ou no pátio da escola)
- Início da intervenção do projeto sobre a temática da
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A Rota do Linho – Uma experiência
pedagógica centrada na tecnologia tradicional do linho.
- Aplicação
de um Inquérito por Questionário aos
alunos, a fim de verificar quais os conhecimentos
dos alunos sobre a temática antes da intervenção.
-
Visionamento de um filme sobre “Os
Tormentos do Linho”, produzido no Concelho da Calheta (R.A.M.),
representando as diversas fases do processo, desde o cultivo, transformação da
fibra até chegar às peças de vestuário masculino e feminino.
-
Preenchimento de uma Ficha Diagnóstica
individual para verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante a
observação do filme (designação dos objetos técnicos, matéria(s) prima(s)
usada(s), nomes dos processos de transformação da fibra, designação de peças de
vestuário em linho tecido, etc.).
- Visita de
Estudo à Casa da Cultura do Curral das
Freiras – Exposição sobre o tema “Os
Tormentos do Linho”, da autoria do Professor Mestre Jaime Andrade.
- Preenchimento da Ficha de Avaliação da visita de estudo realizada.
-
Visionamento de um PowerPoint sobre a tecnologia tradicional do linho no
Município da Calheta, alertando os alunos para a importância da sua preservação
e divulgação do património cultural da sua região, uma vez que se encontra em
via de extinção.
- Motivar os
alunos para fazer uma sementeira do linho, na horta da escola, de modo a acompanhar o cultivo, o
crescimento e transformação da fibra da planta.
- Sementeira da linhaça (num espaço da horta da Escola Básica
123/PE do Curral das Freiras e numa parcela de terreno de uma habitante local,
em cooperação com a Casa do Povo do Curral das Freiras).
-
Distribuição de algumas sementes de linhaça a cada aluno afim de semear em
casa, com o intuito de seguir a evolução do crescimento da planta e envolver a
família no acompanhamento do projeto.
-
Demonstração prática de algumas das operações do processo de transformação da
planta do linho pelo docente Jaime Andrade (Investigador da Tecnologia Tradicional do Linho no Concelho da Calheta - R.A.M.), seguindo-se experimentalmente pelos
alunos.
- Os alunos intervenientes serão distribuídos em grupos
de trabalho coletivo, sendo colocados os objetos no pátio da escola, ao ar
livre, e visto que terão mais espaço do que na sala de aula, qualquer elemento
da comunidade educativa poderá observar a atividade da(s) turma(s) e também
evitará o ruído no interior da sala, não prejudicando outras turmas que se
encontram em aulas.
Cada grupo iniciará a sua operação da tecnologia do
linho, após a demonstração prática pelo docente, sendo que todos os elementos
de cada grupo trabalharão rotativamente na atividade de um determinado objeto,
passando posteriormente para outro objeto e assim sucessivamente, até passar
por todos os oito objetos. De referir, que em cada fase de transformação da
planta, haverá sempre um produto “final” – o caule da planta do linho vai sendo
transformado, com auxílio de um dos diversos objetos etnográficos da tecnologia
tradicional do linho, onde posteriormente terá o seu seguimento, sendo sujeito
a outros objetos ordenadamente até chegar ao sedeiro. Nesta fase, a fibra é
separada, ou seja, a de melhor qualidade e comprida é o “linho”, enquanto a de
menor qualidade e curta é chamada de “estopa”.
Sendo a assedagem a última etapa de todo o processo, esta
consiste na separação das fibras longas, do linho, das da estopa, que são mais
curtas. Estas atividades desenvolvidas pelos alunos ocuparão algumas aulas de
experimentação no pátio da escola, levando os alunos a adquirir experiência
pedagógica em cada operação com os objetos e a melhorar as técnicas utilizadas
em cada objeto desta tecnologia artesanal da Ilha da Madeira.
- Os alunos experimentam os objetos usados na
tecnologia do linho (abaixo referidos) e registam a sua sequência do processo
de transformação, no seu caderno diário.
Processo de transformação da planta
Processo de transformação da planta
- - Ripar (separar a baganha - cápsula que contém a semente do linho – a linhaça, com auxílio do ripanço);
- - Joeirar a baganha (limpar as impurezas da linhaça com auxílio da joeira. Esta será posteriormente colocada ao sol para extrair as sementes);
- - Maçar (bater o linho com um maço de madeira resistente para soltar as arestas); - Gramar (triturar as cascas do linho – as arestas com a gramilha. Neste sofrimento desprendem-se as primeiras fibras, as mais curtas e menos resistentes: os tomentos, com auxílio da gramadeira);
- - Tasquinhar (consiste em libertar as fibras têxteis das palhas fragmentadas da parte lenhosa quando é realizada a maçagem, com auxílio da tasquinha ou espadela);
- - Sedar ou assedagem (consiste na limpeza e seleção das fibras, separando as fibras longas do linho, das de estopa mais curtas, com auxílio do sedeiro);
- - Ensarilhar (as maçarocas do fio fiado na roca e retiradas do fuso, são postas em meadas, com auxílio do sarilho);
- - Dobar (passagem do fio das meadas a novelos, com auxílio da dobadoira);
- - Fiar (puxar do manelo uma mecha de fibras distorcendo-as e torcendo-as entre os dedos, enrolando-a seguidamente à ponta do fuso e fazendo-o rolar, suspenso no ar, apoiado no chão ou rolando sobre a coxa);
- - Construção de um “sedeiro” em miniatura para cada discente levar para casa;
- - Processo de Branqueamento do fio (com o possível apoio/colaboração do Grupo de Folclore da Casa do Povo do Curral das Freiras);
- - Urdidura de uma teia (por uma tecedeira) em urdideira com auxílio da espadilha;
- - Observação/identificação das peças que constituem um tear tradicional de dois pedais (prumideiras);
- - Colheita do linho semeado na horta da escola; no terreno cedido e colocação em mancheias;
- - Ripagem da baganha, com auxílio do ripanço;
- - Transporte e colocação do linho no lago;
- - Retirada do linho do lago;
- - Secagem do linho ao sol;
- - Recolha do linho e colocação em maçadoiras (molhos grandes).
- - Elaboração da Exposição cujo tema: “A Rota do Linho – Uma experiência pedagógica centrada na tecnologia tradicional do linho”.
- Aplicação do Inquérito por Questionário aos alunos afim de averiguar se os
alunos aprofundaram/alargaram os conhecimentos adquiridos durante a intervenção
do projeto.
Produtos finais
-
Construção de um objeto da tecnologia do linho, designadamente o “sedeiro” para cada discente levar para
casa, com o resultado da transformação da planta do linho assedado por cada um
- linho assedado e fiado);
- Realização de um filme (produzido pelos
alunos do Curso Profissional Técnico de Multimédia) das atividades práticas
desenvolvidas com os alunos, a fim de divulgar na comunidade educativa e na
página web da escola;
-
Elaboração de um PowerPoint com as imagens recolhidas das atividades práticas a
apresentar na exposição do Grupo Disciplinar de EVT e Informática;
- Apresentação das atividades práticas
desenvolvidas pelos alunos na Exposição do Grupo Disciplinar de EVT no final do
ano letivo 2014-2015 na Escola 123/PE do Curral das Freiras e na Casa da
Cultura do Curral das Freiras, integrada no programa da XI Mostra da Ginja
& Doçaria – II Arraial da Ginja, organizada pela Casa do Povo local e que
ocorrerá no mês de julho de 2015, na Praça da Autonomia.
Desafio aos alunos dos PCA
(Percursos Curriculares Alternativos – Despacho Normativo n.º 1/2006)
- Como desafio aos alunos das turmas PCA, pretende-se construir um protótipo de uma "Espadeladora" do linho, recorrendo a materiais reutilizáveis, para que com esta seja possível rentabilizar a mão de obra, quer a nível de tempo, quer ao nível da produção do fio de linho.
Turmas/salas envolvidas no projeto
O projeto será
desenvolvido pelas turmas 2 do 6º e 7º anos de Percursos
Curriculares Alternativos – Despacho
Normativo n.º 1/2006, em cooperação com a turma 1 do Curso Profissional Técnico de Multimédia.
As atividades ocorrerão na sala de Educação Visual e
Tecnológica, no pátio da escola e na horta e num terreno na localidade, cedido para o efeito.
Como disciplinas intervenientes, de referir a Educação Tecnológica, a Educação Visual e as Artes.
Como disciplinas intervenientes, de referir a Educação Tecnológica, a Educação Visual e as Artes.
Haste
da planta do linho em flor (Fechada)
Importância da cultura do linho para a localidade do Curral das Freiras
O projeto de intervenção deverá ter continuidade no próximo ano letivo 2015/2016, com o objetivo dos intervenientes aprofundarem os conhecimentos adquiridos e se possível, construir todos os objetos (incluindo o tear) da Tecnologia Tradicional do Linho, para a escola, em parceria com a Casa do Povo do Curral das Freiras e outras instituições locais interessadas.
Pretende-se com esta intervenção local, incentivar e dinamizar a cultura da planta do linho, por forma a que esta possa vir a ser uma fonte de rendimento para algumas famílias carenciadas ou mesmo por outras que se interessem por esta cultura.
Coordenação do projeto de intervenção/parcerias
O presente projeto de intervenção será implementado através do Projeto Currartes, coordenado pelo professor Jaime Andrade e com a colaboração das professoras Susana Silva e Lourdes Frias (docentes responsáveis pelo Currartes), e conta com as parcerias do Eco-Escolas; do Projeto Clube Multimédia e da Casa do Povo do Curral das Freiras.
De referir que a atividade: A Rota do Linho - "Uma experiência pedagógica centrada na tecnologia tradicional do linho" será submetida a concurso, através do Projeto: Prémio Fundação Ilídio Pinho, no âmbito do ”Concurso de ideias”, subordinados ao tema “Ciência e tecnologia como resposta aos grandes desafios da Sociedade”.
Segundo o regulamento do concurso, “Os projetos a concurso devem demonstrar através dos avanços da tecnologia a oportunidade de responder aos desafios da globalização social com base na ciência.
Os projetos devem
apresentar uma visão multidisciplinar, envolvendo áreas curriculares
diferenciadas através da integração dos diferentes saberes. Serão também
valorizados os níveis de criatividade e inovação que apresentem, bem como o seu
impacto social.”
NOTA: Durante o crescimento da planta do linho na horta, os
alunos adquirem conhecimentos teórico/práticos, a partir do linho entretanto
cultivado pelo professor formador Jaime Andrade (Artes Visuais).
Curiosidades!
Conheça algumas fases da tecnologia tradicional do linho
Linho a crescer
Campo de linho em flor
Flor do linho (azul)
Haste verde do linho
Baganha verde (cápsula que contém a linhaça)
Baganha madura
Colheita manual do linho
Colheita do linho em mancheias (mão cheia de linho)
Ripagem do linho - Separar a baganha da planta
Curtimenta - Colocar o linho no lago
Curtimenta - O linho fica no lago durante 8 dias
Linha a secar - O linho fica a secar durante 8 dias
Trailer "OS TORMENTOS DO LINHO"
OBSERVAÇÕES: Todas as fotos são da autoria de Jaime Andrade (Investigador).
EB123/PE do CURRAL DAS FREIRAS
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