quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

HISTÓRIA DO LINHO 


             Não se conhece a data e o local em que o homem utilizou pela 1.ª vez as fibras flexíveis do linho para confeccionar tecidos, nem quando a planta começou a ser cultivada.
   Os primeiros vestígios da sua utilização apareceram em habitações lacustres da Suíça que datam de há cerca de 800 anos. No Egipto foram encontrados vestígios da sua utilização em jazidas do Neolítico representados por fragmentos de tecidos e por fusos, por volta de 500. a. c. Estes factos não só provam que o linho era já então cultivado e utilizado mas indicam, pela perfeição do seu fabrico, um longo desenvolvimento anterior.
    O linho vem também mencionado no Velho Testamento. As Cortinas e o Véu do Tabernáculo e as Vestes de Arão como oficiante, eram em “ linho fino retorcido.”
       A túnica de Cristo era de linho sem costuras.
     A planta aparece, posteriormente, em certas regiões da Grécia Continental - onde o linho foi igualmente um dos mais importantes têxteis.
No território que veio a ser Portugal, o cultivo do linho e a sua utilização têxtil provém dos tempos pré-históricos. Em certas jazidas da província de Almeria que remontam a 2500.a.c., encontraram cápsulas de linhaça, e numa "sepultura", coberta por mámoa , situada numa propriedade particular junto das Caldas de Monchique, no Algarve, considerada da 1.ª fase do bronze mediterrâneo peninsular, recolheu-se um pequeno farrapo de linho (2500. a. c.).

Texto: Prof. Jaime Andrade




quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

 Considerações sobre o conceito de Educação


            Hoje decidi tecer algumas considerações sobre o conceito de Educação, visto que como já vimos anteriormente, no projeto da tecnologia tradicional do linho, iremos abordar as Metas Curriculares do Ensino Básico, quer da Educação Tecnológica, quer da Educação Visual.

Entendemos por «Educação» o “processo que visa o desenvolvimento harmónico do ser humano nos seus aspetos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade”; o “processo de aquisição de conhecimentos e aptidões”; a “instrução”; e ainda a “adoção de comportamentos e atitudes correspondentes aos usos socialmente tidos como corretos e adequados; cortesia; polidez” (Definição de «Educação» segundo o Dicionário Online da Porto Editora, Infopédia).
Analisando o conceito etimologicamente,
“Educação é a forma nominalizada do verbo educar. Aproveitando a contribuição de Romanelli (1960), diremos que educação veio do verbo latim «educare». Nele, temos o prevérbio e- e o verbo – «ducare, ducere». No itálico, donde proveio o latim, «ducere» se prende a raiz indo-europeia DUK-, grau zero da raiz DEUK-, cuja aceção primitiva era levar, conduzir, guiar. «Educare», no latim, era um verbo que tinha o sentido de “criar (uma criança), nutrir, fazer crescer. Etimologicamente, poderíamos afirmar que educação, do verbo educar, significa “trazer a luz a ideia” ou filosoficamente fazer a criança passar da potencia ao ato, da virtualidade a realidade.” (Martins, 2005, p. 33)

Se atendermos apenas a estes conceitos parece ser percetível e ajuizada esta definição geral porque se enquadra naquilo que, no senso-comum, se entende realmente quando há referência a este conceito.
Cada criança é um indivíduo único, com um nível de desenvolvimento próprio que depende das suas capacidades, dos seus interesses, da influência cultural e social que tem, dos padrões de aprendizagem a que é submetido e do seu comportamento. Se algumas crianças retêm melhor o que ouvem ou preferem trabalhar individualmente, outras conservam aquilo que veem e aprendem melhor em grupo, e o mesmo se aplica a muito mais exemplos. Se todas aprendem de forma diferente, os métodos de ensino e aprendizagem devem apropriar-se a cada aprendizagem. Segundo a «IICBA’s Electronic Library» da Unesco, existem três formas distintas pelas quais as pessoas se podem relacionar umas com as outras: podem agir individualmente sem nunca interagirem com o outro, podem competir para ver quem é o melhor ou podem trabalhar colaborativamente para atingirem objetivos comuns. As três formas de aprendizagem referidas denominam-se por competitiva, individualista e cooperativa.


“A competição é baseada numa escassez concebida e em comparações sociais. Quando se exige a competição entre os alunos, estes trabalham um contra o outro para realizar uma meta que apenas um ou pouco alunos podem realizar. Esforços individualistas são baseados na independência e no isolamento dos outros. Assim, quando os alunos trabalham individualmente, aprendem a realizar metas de aprendizagem não relacionadas as dos outros. Por último, a cooperação e baseada em ações conjuntas para realizar objetivos mútuos. Quando estiverem a cooperar, os alunos procuram resultados que sejam benéficos tanto para si próprios, como para outros membros do grupo” (Johnson & Johnson, 1994, citado por Gonçalves, 2007, p. 164).


Alguns métodos e atividades de ensino são particularmente úteis na estruturação de esforços competitivos, individualizados e cooperativos de aprendizagem. Estes incluem práticas de trabalho em grupo, competição intergrupal, trabalho individualizado e aprendizagem ativa, entre outras. Entende-se por aprendizagem ativa a experimentação direta e imediata das aprendizagens que o aluno faz. De acordo com este método, as atividades propostas pelo professor permitem ao aluno aprender por sua própria iniciativa, uma vez que é ele que controla o processo – “o professor torna-se um observador-participante que impulsiona o desenvolvimento cognitivo do aluno, uma vez que os interesses e capacidades deste serão tanto mais promovidos quanto mais relevante for o seu papel na interação dos elementos da aprendizagem” (Ornelas, 2008, p. 2) (Oliveira, 1996, citado por Ornelas, 2008, p. 2). Dão-se primazia a processos de procura e descoberta, nas mais variadas situações, e as informações detidas pelo aluno surgem dentro de uma organização cognitiva construída por ele próprio, que lhe permitem pesquisar as informações necessárias, trabalhá-las e modificá-las, levantar hipóteses e tomar decisões.

“A relação da escola com entidades externas possibilita aos alunos uma perceção da realidade movida pela oportunidade de experimentar e descobrir de forma autónoma, abrindo caminho a aquisição de conceitos, aquisição esta que estará dependente dos seus atos de descoberta e poderá conduzir ao sucesso escolar. Como estratégia, as visitas de estudo devem ser contempladas na definição de atividades previamente definidas pelo professor (Ribeiro & Ribeiro, 1990), nomeadamente as visitas a museus, que são vias importantes para a aquisição de conhecimentos, uma vez que estes tem objetivos educativos e dispõem de atividades variadas que podem proporcionar aos alunos”. (Ornelas, 2008, p. 2).

A disciplina de Educação Tecnológica é uma área educativa do currículo escolar onde o aluno pode adquirir conhecimentos, desenvolver capacidades, aprendizagens, competências e atitudes nos domínios da tecnologia e da técnica, que lhe possibilitam a construção de produtos ou objetos concretos.

 Da conclusão anterior podemos deduzir que a Educação Tecnológica serve para aprender a ligar os conhecimentos através de realizações práticas precisas – conhecimento e saber em ação.
            Servirá, também, para o motivar para a observação, investigação e análise de factos e fenómenos do mundo da técnica e da tecnologia, despertando-lhe o interesse pelas inovações tecnológicas que todos os dias nos surpreendem.
Mas isto exige atitudes: atitudes tecnológicas e atitudes técnicas consistentes. A Educação Tecnológica deve, igualmente, ajudar-lhe a tomá-las.
            E o que significam essas atitudes?
            Enquanto que a atitude técnica é a predisposição resultante de um problema técnico concreto a resolver, através da utilização eficiente de instrumentos, ferramentas e processos adequados – é a atitude de quem faz, a atitude tecnológica é a atitude de quem analisa e estuda, isto é, perante o mesmo problema tenta avaliá-lo de diferentes pontos de vista, no sentido da compreensão das suas causas e implicações (funcionais, económicas, sociais, estéticas, ambientais, etc.) que podem levar:
- à descoberta de soluções alternativas;
      - à escolha da melhor solução.
É a maior ou menor consciência na tomada destes dois tipos de atitudes (que se complementam) que nos vai dar a dimensão da nossa cultura tecnológica.
            Podemos então afirmar que:
- A Educação Tecnológica não pode existir sem cultura tecnológica, sob pena de ficar adulterada a solução do problema ou imperfeito o produto final.
            A disciplina de Educação Tecnológica ajuda-lhe a enriquecer a sua cultura tecnológica e partir daí para uma melhor compreensão do mundo técnico e tecnológico atual, proporcionando-lhe, nesse âmbito, o desenvolvimento:
- do sentido crítico e social;
- do espírito científico;
- da capacidade de análise e comunicação;
- das suas aptidões técnicas e manuais.
            O que o aluno pode fazer?
O principal “centro de comandos” das atividades humanas encontra-se no cérebro; o principal “centro de comandos” das atividades em Educação Tecnológica encontra-se no objeto técnico, isto é, nas coisas produzidas ou pela mão do Homem – objetos técnicos artesanais, ou pelas máquinas – objetos técnicos industriais.
Pensar e agir tecnologicamente (a essência desta disciplina) passa, portanto, por estudar, projetar e concretizar objetos técnicos. Reside aqui todo o campo de ação da Educação Tecnológica.

Texto: Prof. Jaime Andrade


Mapa da localidade do Curral das Freiras


sábado, 24 de janeiro de 2015

OS TORMENTOS DO LINHO



Linhaça (semente do linho)

SABIA QUE:

O linho deve ser semeado na primeira semana de março, para ser fervaço, ou seja, grande e forte.
Semeia-se na lua nova, pelo Entrudo, para ter muita fibra.
Na Madeira, o linho tem acompanhado o homem desde a colonização. Numa época em que o isolamento era grande e as possibilidades eram poucas, não havia grandes alternativas na fabricação de têxteis. A ligação das populações à terra e a necessidade na confeção de vestuário e de outros utensílios diários importantes tornaram esta cultura num bem essencial e inseparável ao homem.
Esta cultura tem preferência pelas terras planas, arenosas e enxutas, por ser uma planta exigente em sais minerais e água. O cultivo deve ser rotativo.
O linho é uma planta que atinge um metro de altura e as suas flores frágeis surgem para dar lugar às cápsulas que albergam sementes para o futuro cultivo.
Entre São João e São Pedro é altura de apanhar o linho.
A colheita das hastes deve ser feita um pouco antes do fruto secar, a fim de que as fibras não fiquem ásperas. Também não deve fazer-se cedo de mais para que não sejam demasiado fracas.
A colheita é manual, arrancada pela raiz, a fim de se aproveitar todo o comprimento dos caules, formando-se em mancheias, ou seja, pequenos molhos, com a parte da semente toda para o mesmo lado.
O linho é depois sujeito a uma operação que se chama ripagem. Ao passarem por entre os dentes do ripanço, as cápsulas, bem fechadas e rígidas, separam-se do caule.
Seguidamente as cápsulas, depois de secas ao sol, são joeiradas para serem extraídas as sementes. Designadas por linhaça, as sementes serão utilizadas na plantação do ano seguinte.
A curtimenta é uma das operações mais importantes. Os molhos do linho são colocados dentro de água durante algum tempo. É uma operação indispensável para se obter a separação dos elementos fibrosos dos lenhosos.
O período de tempo da curtimenta depende dos locais em que se realiza, variando, normalmente, entre 6 a 8 dias.
            Efetuada a curtimenta, o linho é retirado da água e lavado para mover as sujidades que entretanto se acumularam. 
Após a passagem pela água, o linho é colocado a secar ao sol durante alguns dias (8 dias).
Depois de seco, é atado em molhos designados por maçadoiras, o equivalente a mais ou menos 4 mancheias.
Bem seco e estaladiço, o linho encontra-se preparado para a maçagem, ou seja, a separação das fibras lenhosas das fibras têxteis.
            Para tornar as fibras mais dobráveis e flexíveis, deita-se água por cima durante alguns dias.
Antes da próxima fase, é fundamental o linho encontrar-se bem seco.
         A gramadeira faz lembrar a faca de cortar bacalhau usada nas tradicionais mercearias. O utensílio que chamaríamos faca tem o nome de gramilha e tem a função de triturar as cascas do linho, as denominadas arestas. Neste sofrimento desprendem-se as primeiras fibras, as mais curtas e menos resistentes: os tomentos.
Depois de gramar, o linho vai a tasquinhar.
         A tasquinha ou espadela tem como objetivo retirar o resto das arestas que ainda estão ligadas às fibras. Agora que cabe numa mão, o linho passa a ter o nome de estriga. É esta que vai submeter-se às fases seguintes: o sedar e o fiar.
        A sedagem consiste na separação das fibras longas das mais curtas, conhecidas por estopa.
          O sedeiro tem a missão de selecionar as melhores fibras e penteá-las, ou seja, ordená-las paralelamente, ficando na mão apenas as mais compridas, finas e lisas.
          Depois desta separação do linho em duas partes, inicia-se a fiação utilizando o fuso e a roca.
Torcendo e distorcendo um conjunto de fibras entre os dedos, obtém-se um fio pronto para utilização têxtil.
Mas nem tudo era mau: estes trabalhos davam muitas vezes lugar a serões onde grupos numerosos se reuniam, ora em casa de uns, ora em casa de outros, a preparar o linho.
As maçarocas do fio anteriormente enrolado no fuso são, através do sarilho, dispostas em meadas.
As meadas, antes de serem dobadas e tecidas, são objeto de um processo de branqueamento em fio e em tecido. Esta operação, conhecida por a barrela, tem por fim libertar os fios de todas as impurezas. Para isso utiliza-se água fervida, cinza e algumas plantas (folhas de couve, flor de giesta, heras, etc.).
Logo após este tratamento, as meadas são lavadas.
Para que se tornem mais brancas, são colocadas ao sol a corar.
Depois de secar passa-se à fase da dobagem.
         O fio das meadas tem de ser passado a novelos, quer se destine à urdidura da teia, quer à trama do tecido.
A dobadoira facilita esta ação evitando que os fios se enrolem entre si.
          A etapa que se segue é a da urdidura.
        O trabalho de urdir serve para calcular o número de fios que o tecido terá na sua largura assim como o seu comprimento.
          Sairá da urdideira a teia, fios que serão colocados longitudinalmente no tear. Esta tarefa é auxiliada pelo casal e pela espadilha.
O casal, construído em cana vieira, é dividido em 12 compartimentos, que irão receber um novelo cada um.
A espadilha é uma régua de madeira com 12 furos, o mesmo número que os compartimentos do casal.
Depois de urdido, o fio é montado no tear, um processo complexo e moroso.
        O linho que irá constituir a trama, fios transversais, é colocado no caneleiro. Este serve para encher a canela que será colocada na lançadeira.
Finalmente, tudo está preparado para tecer, um trabalho de habilidade e saber da tecedeira.
Entrelaçando fios na transversal com fios na longitudinal através do constante sobe e desce dos liços e prumideiras, e o cá e lá da lançadeira, obtemos por fim um tecido tão trabalhoso quanto desejado.
Depois do tecido pronto, repete-se a operação "a barrela", porque o tecido não está suficientemente branco.
Durante muitos anos, até aos finais do século XIX, guardou-se o costume de semear e trabalhar o linho em quantidade suficiente para dotar cada filha casadoira da sua teia, o que correspondia a cerca de oito metros de tecido.
Hoje, apesar da sua excelente qualidade, a produção de linho na Madeira é praticamente inexistente, restando apenas alguns vestígios daquilo que foi até então conhecido como "Os Tormentos do Linho".
Felizmente muitas destas peças em linho chegaram aos nossos dias e fazem parte da indumentária dos grupos de folclore que, remando contra o tempo, tentam manter vivas estas nossas tradições.

Texto: Prof. Jaime Andrade